Dos dentes de leite à dentição definitiva


Bem-estar
27/10/2021

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Conheça as várias etapas da dentição infantil, desde os dentes de leite à dentição definitiva, com a Dra. Paula Garcia.

A higiene dentária é um indicador importante da saúde da criança e deve sempre ser tido em atenção. A primeira dentição, também chamada dentição de leite, é constituída por 20 dentes, os quais surgem geralmente entre os 6 meses e os 2 anos e meio.

Habitualmente, os primeiros dentes a surgir são os incisivos inferiores centrais, seguindo-se os incisivos superiores centrais e laterais e, em seguida, os inferiores laterais, geralmente entre os 12 e os 14 meses estão presentes um total de oito dentes. Os primeiros molares nascem em média entre os 14 e os 18 meses, os caninos entre os 18 e os 24 meses e os segundos molares entre os 24 e os 30 meses. No entanto as crianças não são todas iguais e tanto há bebés em que o primeiro dente surge aos quatro meses como bebés em que este só aparece após o primeiro ano de vida.

Raramente pode acontecer o bebé nascer com um dente. Geralmente esse dente encontra-se pouco fixo e cai após alguns dias ou semanas. Nestas situações muitas vezes o dente é removido de modo a evitar eventuais engasgamentos. Também a ordem de aparecimento dos dentes poderá não ser a descrita - muitas vezes nascem os incisivos laterais antes dos centrais ou os molares antes dos incisivos. Pode acontecer haver ausência de alguns dentes, geralmente de um canino ou de um incisivo, que pode também constatar-se na dentição definitiva. Há frequentemente uma tendência para ocorrerem situações idênticas num dos progenitores.

É frequente o bebé babar-se abundantemente a partir dos dois meses de idade e levar as mãos à boca com muita frequência como que a coçar as gengivas. Isto não significa obrigatoriamente que estejam a surgir os primeiros dentes - muitas vezes os bebés babam-se muito desde os primeiros meses e podem ter os primeiros dentes só pelos oito ou nove meses! O que acontece é que o bebé tem um excesso de saliva que não consegue engolir por ainda não controlar os movimentos de deglutição - só quando começam a comer à colher é que aprendem a controlar esse movimento.

A erupção dentária causa geralmente dor por inflamação da gengiva. Daí que os bebés fiquem aliviados quando mordem as suas mãos, as do adulto, ou objetos de borracha preferencialmente se estiverem frios por terem estado no frigorífico. Os dentes só por si não causam febre mas o seu aparecimento coincide com uma fase em que a criança está mais sujeita a infeções - é a altura em que se verifica uma diminuição dos anticorpos que recebeu por via transplacentária e pela amamentação e, consequentemente, há uma diminuição da imunidade. Para além disso, coincide também com a idade em que a criança começa a estar mais exposta aos agentes infeciosos por frequentar a creche ou a ama. O mau estar provocado pelo aparecimento dos dentes manifesta-se frequentemente por irritabilidade, alterações do sono, falta de apetite e poderá coexistir febre que geralmente cede facilmente aos antipiréticos e é de curta duração.

Se o bebé estiver muito incomodado poderá ser aplicado um gel anestésico que dá um alívio transitório, mas, por vezes, tem de se recorrer mesmo a um analgésico em xarope ou supositório, como o paracetamol.

É frequente os dentes nascerem afastados uns dos outros o que é motivo de preocupação para os pais. Como os dentes de leite são mais pequenos que os definitivos, à partida esse afastamento não se irá verificar com a dentição definitiva. Outra questão que é muitas vezes colocada pelos pais refere-se ao freio do lábio superior que muitas vezes faz com que os dois dentes incisivos superiores centrais permaneçam afastados. Até esses dentes caírem não será necessário fazer nada e só teremos de nos preocupar quando ocorrer a mudança de dentição. No entanto, nas visitas de rotina ao dentista haverá certamente vigilância dessa situação.

Dentição definitiva
Por volta dos 6-7 anos surgem os segundos molares que são os primeiros molares definitivos. Tendencialmente, nas crianças em que os dentes de leite começaram a nascer mais tarde, também a segunda dentição começa a nascer mais tarde, verificando-se o oposto quando a primeira dentição é precoce. Em regra, o nascimento dos dentes definitivos não causa grandes queixas. Por vezes acontece o dente definitivo começar a nascer por detrás do dente de leite antes de este cair - se este ainda estiver muito fixo e não cair num período de 3 a 4 semanas após se verificar a erupção do dente definitivo será melhor a criança ser observada pelo dentista. Após a queda ou a remoção do dente de leite, o definitivo virá progressivamente ocupar o lugar do primeiro.

A dentição definitiva é constituída por 32 dentes e só está completa no adolescente ou adulto com a erupção dos dentes do siso.

Higiene oral: Quando começar?
A prevalência da cárie dentária é bastante elevada em Portugal mas felizmente tem vindo a diminuir graças aos programas de prevenção para a saúde oral e à maior preocupação dos pais não só relativamente à promoção da higiene oral como também com os cuidados alimentares.

A prevenção das doenças dentárias começa ainda durante a gravidez. Na consulta de vigilância da gravidez a saúde oral deve merecer particular atenção por parte do médico no sentido de sensibilizar a grávida para fazer todos os tratamentos dentários de modo a não apresentar dentes cariados ou doenças periodontais que podem ser um foco importante de infeção e consequentemente por em risco o desenvolvimento fetal.

Nas consultas de saúde infantil os pais devem ser sensibilizados para manterem uma higiene oral adequada da criança - a higiene da boca é fundamental para que os dentes cresçam sãos. Nos bebés pequenos ainda sem erupção de dentes, as gengivas podem ser lavadas com uma compressa molhada evitando assim o crescimento de bactérias. Após a erupção do primeiro dente convém efetuar a escovagem com uma compressa, dedeira ou eventualmente uma escova macia, duas vezes dia, uma das quais após a última refeição. Pode usar um dentífrico que deve conter 1000-1500 ppm de fluoreto, e a quantidade deverá ser aproximadamente idêntica à unha do dedo mindinho.

A partir dos 2 anos entramos num período de autonomia progressiva da criança pelo que muitas querem lavar os dentes sozinhas. A capacidade para o fazerem adequadamente depende da sua maturidade e da destreza manual. Se a criança teimar em lavar os dentes sozinha, deixe-a fazê-lo, mas no fim insista em fazer uma “segunda ronda”, já que a escovagem dos molares geralmente não foi adequada. Também é frequente que, a partir dos 3 anos, a criança se recuse a escovar os dentes - deixou de ser novidade e é mais uma rotina que pretende não cumprir. Costumo aconselhar os pais a fazerem do momento da lavagem dos dentes um momento de brincadeira - todos os elementos da família devem lavar os dentes e ao mesmo tempo aproveitar para se divertirem. Procure comprar uma escova a que a criança ache graça, com bonecos, com som, com cores vivas, e idealmente deixe-a ser ela a escolher a escova. Os dentes deverão ser escovados no mínimo duas vezes por dia, uma das quais antes de deitar.

De acordo com o programa de prevenção da saúde oral da Direção Geral de Saúde, a escovagem dos dentes no Jardim de Infância deverá ser efetuada por rotina tendo como objetivo a responsabilização progressiva da criança pelo auto cuidado pela higiene oral. Esta atividade deverá estar incluída no projeto educativo do jardim-de-infância e ser dinamizado pelos educadores. Infelizmente esta recomendação não se verifica na maioria das instituições, públicas ou privadas.

Por volta dos seis anos começam a surgir os primeiros molares permanentes que, pela sua morfologia, imaturidade e dificuldade na remoção da placa bacteriana das suas fissuras e fossetas, são mais vulneráveis a cáries. Daí que exijam uma maior atenção no que se refere à sua escovagem. Os pais devem continuar a supervisionar a escovagem dos dentes - há muitas crianças que só conseguem escovar os dentes de forma adequada por volta dos sete-oito anos de idade.

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.