Otite: tipos e tratamento


Bem-estar
23/09/2021
As doenças inflamatórias do ouvido são das situações mais frequentes na criança. Saiba mais sobre otites, fatores de risco e tratamentos.

Tipicamente, dividimos as otites consoante o local do ouvido que se verificam em otites externas e otites médias, estas últimas normalmente subdivididas consoante a sua evolução temporal em agudas ou crónicas.

OTITE EXTERNA
A otite externa é um processo inflamatório do canal auditivo, ou seja, do canal que liga o pavilhão auricular ao tímpano. Tipicamente ocorre devido à acumulação de água no canal auditivo, o que provoca irritação e inflamação da pele e favorece o crescimento de micro-organismos como bactérias ou fungos.

São situações frequentes em crianças que frequentam piscinas ou durante a época de praia sendo designadas “ouvido do nadador”. Também a pele seca por ser um fator que favorece esta patologia.
De um modo geral a principal queixa da criança é a dor, que se acentua quando se toca ou com a mastigação, podendo ainda existir diminuição da audição (difícil de avaliar nas crianças pequenas), no caso de o canal estar muito inchado. Raramente há febre ou outras manifestações mais graves.

O tratamento consiste fundamentalmente no alívio da dor e na aplicação tópica de um anti-inflamatório e/ou antibiótico em gotas.

OTITE MÉDIA AGUDA
O ouvido médio, também designado por caixa do tímpano, encontra-se separado do canal auditivo externo pela membrana timpânica. A otite média aguda é caracteristicamente uma inflamação aguda da mucosa do ouvido médio, afetando 80% das crianças com menos de dois anos de idade. Esta patologia é responsável por cerca de 1/3 das visitas ao médico na criança com menos de 5 anos, diminuindo à medida que a idade avança. Por volta dos 3 anos cerca de 45% das crianças terão tido 3 ou mais episódios de otite. Fala-se de otite recorrente se ocorrem pelo menos três episódios de otite média aguda em 6 meses ou quatro episódios ou mais num ano.

Qual a razão desta prevalência tão grande na idade pediátrica?
O arejamento do ouvido médio é feito através da trompa de Eustáquio que é o canal que faz a ligação deste com as fossas nasais. Na criança este canal é muito horizontalizado, estreito e flácido, o que favorece a chegada das bactérias que existem naturalmente na nasofaringe até ao ouvido médio.

Por esta razão também é natural que as otites ocorram sobretudo durante os meses frios e geralmente na sequência de infeções respiratórias. Cerca de 20% são devidas a agentes virais mas frequentemente ocorre sobre-infeção bacteriana o que obriga ao tratamento antibiótico.

Factores de risco
Para além da idade há vários outros fatores de risco para a ocorrência de otites, tanto genéticos como adquiridos. Dos fatores genéticos destacam-se as malformações crânio-faciais (como a fenda palatina, por exemplo), os défices imunitários ou as alergias. Como fatores adquiridos sabemos que a frequência do infantário é também um fator de risco, porque aumenta a probabilidade de infeções respiratórias, assim como a exposição ao tabaco ou aos poluentes (uma vez que causam irritação da mucosa respiratória). Deve-se também evitar que a criança mame o biberão na posição deitada, pois pode favorecer o refluxo do leite para o ouvido, e deve ser desencorajado o uso da chucha.

Para além dos fatores de risco importa salientar que um dos principais fatores protetores do desenvolvimento de otites nos lactentes é o aleitamento materno.

Manifestações clínicas
Os sintomas dependem da idade da criança. No lactente há geralmente choro, irritabilidade, recusa alimentar, febre e por vezes sintomas gastrointestinais. Pode levar a mão ao ouvido em sinal de dor ou encostar a cabeça ao adulto na tentativa de aliviar o mal-estar. A criança mais velha que já se sabe queixar refere geralmente dor, diminuição da audição e apresenta quase sempre febre. Quando há acumulação de pus contra o tímpano, esta pode romper e haver saída de líquido amarelado através do canal auditivo - otorreia - que geralmente promove o alívio da dor.

Como muitas vezes a otite é precedida de uma constipação, existem muitas vezes outros sintomas para além dos auditivos como obstrução nasal, rinorreia ou tosse.

Tratamento
Para além do tratamento sintomático (analgésicos /antipiréticos para controlar a dor e a febre; medidas de higiene nasal), geralmente há necessidade de recorrer a terapêutica antibiótica. Esta terá de ser escolhida de acordo com a idade e com os agentes que mais frequentemente são responsáveis pelos casos de otite na criança.

Complicações
Geralmente o prognóstico da otite média aguda isoladamente é favorável. Raramente podem surgir complicações tais como meningite, mastoidite e paralisia facial e evolução para otites crónicas.

OTITE SEROSA OU SEROMUCOSA
Trata-se de uma inflamação subaguda ou crónica do ouvido médio em que se verifica acumulação de um líquido intra-timpânico por um período superior a três meses e que condiciona a mobilidade da membrana timpânica. É muito frequente na criança entre os dois e os cinco anos de idade sendo uma das principais causas de surdez infantil.

A otite serosa é uma complicação frequente da otite média aguda ou recorrente. Sempre que há uma alteração da ventilação do ouvido médio (adenoides aumentados, trompa de Eustáquio com alterações anatómicas) que dificulta o arejamento do tímpano, há acumulação de secreções e alteração da constituição da membrana timpânica.

Manifestações clínicas
Relativamente à sintomatologia, a otite serosa/seromucosa causa sintomas insidiosos como dificuldade de concentração, irritabilidade, alterações do sono. A criança mais velha tem necessidade de aumentar o volume da televisão, falar alto, tem dificuldade em ouvir e pede para repetir as palavras. Quando não diagnosticadas atempadamente as otites sero-mucosas podem condicionar dificuldades de aprendizagem e na aquisição da linguagem e consequentemente pôr em causa o normal desenvolvimento global da criança.

Diagnóstico
O diagnóstico faz-se pela observação clínica e por exames complementares como o timpanograma, que permite analisar o modo como o tímpano vibra com o som, e o audiograma que avalia a eficácia com que o som é transmitido e permite detetar uma diminuição na acuidade auditiva.

Tratamento
Por vezes estas situações evoluem naturalmente para a cura sem qualquer tratamento embora normalmente seja benéfico a utilização de um descongestionante nasal e antialérgicos.

Caso não se verifique melhoria do quadro clínico e sobretudo se existirem alterações no timpanograma e/ou no audiograma poderá estar indicada a colocação dos chamados “tubinhos”. É feito um orifício na membrana timpânica e colocado um tubo que consegue arejar o ouvido médio e impedir a acumulação de secreções o que condiciona uma melhoria nítida da audição. Regra geral os tubos são expulsos espontaneamente após 6 a 18 meses mas quando tal não acontece poderão ter de ser retirados cirurgicamente. Em cerca de 1/3 dos casos poderá ser necessário colocar novamente os tubos se existir recorrência da situação.

Durante o período que a criança tiver os tubinhos nos ouvidos não deverá entrar água no ouvido pelo que terá de se ter muito cuidado com o banho, usando tampões auriculares ou mesmo bandas de proteção.

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.